A revolução comercial e o
Mercantilismo
Mudanças a serviço da permanência - Começa
a partir do século XIII com o surgimento de novas relações econômicas. Ganham
corpo a economia monetária, a sociedade de mercado, novas relações de trabalho
e o mercantilismo colonial. O centro da vida econômica, social e política
transfere-se dos feudos para as cidades.
A
transição da Idade moderna e o estado moderno - As transformações socioeconômicas e político-culturais,
iniciadas na Baixa Idade Média, continuaram por toda Idade Moderna, acelerando
a passagem do feudalismo para o capitalismo. Cronologicamente a modernidade
compreendeu o intervalo entre a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos
(1453) e o início da Revolução Francesa (1789).
Os principais marcos dessa nova etapa histórica foram as
Grandes Navegações, que resultaram nos descobrimentos e na montagem do sistema
colonial; o Renascimento Cultural, alicerçado no racionalismo humanista e no
antropocentrismo; a Reforma Protestante, que terminou com o monopólio da Igreja
Católica Apostólica Romana no Ocidente e o estabelecimento do Absolutismo, que
tinha como política econômica o Mercantilismo.
A
Expansão Comercial Européia garantiu a ampliação dos mercados que se tornaram
nacionais e gradativamente internacionais. Pela primeira vez na história, os
continentes estavam interligados. Os fatores explicativos para que o comércio
tivesse um grande desenvolvimento a partir do século XV foram, o aumento
demográfico; o crescimento urbano; a ampliação das atividades manufatureiras;
as mudanças nas relações de trabalho; o reconhecimento social da burguesia e a
centralização política (Monarquia Nacional).
Falta de metais preciosos e de matérias-primas,
juntamente com a necessidade de se quebrar o monopólio do comércio de
especiarias das cidades italianas, foram algumas das causas da Expansão
Marítima.
Nesse contexto, Portugal com sua precoce centralização
política, seus conhecimentos de navegação, privilegiada localização geográfica
e forte burguesia, foi a nação pioneira nas Grandes Navegações, seguido de
perto pela Espanha, apesar do pequeno atraso decorrente das lutas de
Reconquista (cristãos X muçulmanos).
O expansionismo lusitano optou pela rota oriental,
contornando a costa africana, enquanto o espanhol a ocidental, via Oceano
Atlântico. Bartolomeu Dias, em 1488, confirmou a passagem para o Oceano Índico,
mas foi Vasco da Gama, em 1498, o responsável pela vitória portuguesa na
corrida para as “Índias”. Paralelamente, a Espanha teve a confirmação de que
Colombo descobriu, em 1492, um novo continente, a América. A “preponderância
ibérica” se manifestou tanto no expansionismo marítimo, quanto na montagem do
sistema colonial.
A Revolução Comercial impulsionada com as conquistas
transoceânicas, promoveu novas mudanças no seio da sociedade européia, em
especial nos campos da mentalidade, das artes e das ciências e passaram para a
História como Renascimento Cultural.
Sintonizado com seu tempo, o Renascimento pode ser
considerado uma revolução cultural, devido ao forte caráter burguês, laico,
científico e, principalmente, antifeudal.
Na essência renascentista o antropocentrismo humanista
representou a busca da superação dos velhos valores religiosos medievais, por
novos. Otimismo, individualismo, naturalismo, racionalismo e hedonismo,
passaram a caracterizar o comportamento e a construção do “novo homem”.
O Renascimento, em suas origens, encontrou nas ricas
cidades italianas o meio ideal para se desenvolver: capital acumulado, oriundo
do Renascimento Urbano e Comercial; presença viva do legado cultural clássico,
fruto dos vários monumentos e ruínas romanas; surgimento dos mecenas,
patrocinadores das artes e das ciências e a fuga para a península itálica de
muitos sábios bizantinos, por ocasião da invasão turca sobre Constantinopla.
Nascido na Itália durante o século XV, o Renascimento se
difundiu no XVI para o restante da Europa, mas não despertou com a mesma
natureza, predominando um forte regionalismo e preocupações com problemas de
ordem mais pratica e ética.
A busca, por parte dos humanistas, de um cristianismo
mais “revigorado” e sintonizado com o novo contexto político-econômico e social
europeu, gerou o movimento reformista, responsável pelo rompimento da unidade
do cristianismo ocidental. Juntamente com a própria crise moral da Igreja
Católica, cujos abusos contrastavam com suas pregações. Os principais
reformistas foram Lutero (Sacro Império), Calvino (Suíça) e Henrique VIII
(Inglaterra).
Ruptura do poder político papal; emergência de guerras
por pretextos religiosos; ampliação da educação popular; expansão das práticas
capitalistas, devido a formação de uma ética burguesa; reação católica com a
finalidade de impedir o avanço protestante e fortalecimento do poder real,
foram os principais reflexos do movimento reformista.
A concentração do poder durante a modernidade evoluiu até
a afirmação da Monarquia Absolutista, na qual o rei passou a ser identificado
com o próprio Estado. A autoridade monárquica absoluta era justificada por duas
concepções: o direito divino e o contrato social. Jacques Bossuet e Jean Bodin
defendiam a primeira, enquanto Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes a segunda.
Mercantilismo
- Conseqüência da ampliação de
horizontes econômicos propiciada pelos descobrimentos marítimos do século XVI,
o mercantilismo, apesar de apresentar variantes de país para país, esteve
sempre associado ao projeto de um estado monárquico poderoso, capaz de se impor
entre as nações européias.
Mercantilismo é a teoria e prática econômica que
defendiam, do século XVI a meados do XVII, o fortalecimento do estado por meio
da posse de metais preciosos, do controle governamental da economia e da
expansão comercial. Os principais promotores do mercantilismo, como Thomas Mun
na Grã-Bretanha, Jean-Baptiste Colbert na França e Antonio Serra na Itália,
nunca empregaram esse termo. Sua divulgação coube ao maior crítico do sistema,
o escocês Adam Smith, em The Wealth of Nations (1776; A riqueza das nações).
Para a consecução dos objetivos mercantilistas, todos os
outros interesses deviam ser relegados a segundo plano: a economia local tinha
que se transformar em nacional e o lucro individual desaparecer quando assim
conviesse ao fortalecimento do poder nacional. A teoria foi exposta de maneira
dispersa em numerosos folhetos, meio de comunicação então preferido pelos
preconizadores de uma doutrina.
Programa da política mercantilista. Alcançar a abundância
de moeda era, efetivamente, um dos objetivos básicos dos mercantilistas, já
que, segundo estes, a força do estado dependia de suas reservas monetárias. Se
uma nação não dispunha de minas, tinha de buscar o ouro necessário em suas
colônias ou, caso não as tivesse, adquiri-lo por meio do comércio, o que exigia
um saldo favorável da balança comercial -- ou seja, que o valor das exportações
fosse superior ao das importações.
Para obter uma produção suficiente, deviam ser utilizados
hábil e eficazmente todos os recursos produtivos do país, em especial o fator
trabalho. Toda nação forte precisava possuir uma grande população que
fornecesse trabalhadores e soldados, e ao mesmo tempo o mercado correspondente.
As possessões coloniais deveriam fornecer metais preciosos e matérias-primas
para alimentar a manufatura nacional, ao mesmo tempo em que constituíssem
mercados consumidores dos produtos manufaturados da metrópole. Proibiam-se as
atividades manufatureiras nas colônias, e o comércio, em regime de monopólio,
era reservado à metrópole.
Em território nacional, o mercantilismo preconizou o
desaparecimento das alfândegas interiores, a supressão ou redução dos entraves
à produção forçados pelas corporações de ofício, o emprego de sistemas de
contabilidade e acompanhamento das contas de receitas e despesas do estado, a
troca de funcionários corruptos ou negligentes por outros honestos e
competentes, a criação de uma fiscalização centralizada e a adoção de leis que
desestimulassem a importação de bens improdutivos e de grande valor.
A crítica mais abrangente do mercantilismo foi movida por
Adam Smith, que denunciou a falsa identificação, feita por muitos teóricos
dessa corrente econômica, entre dinheiro e riqueza. Com efeito, o forte
protecionismo alfandegário e comercial, e a subordinação da economia das
colônias à da metrópole, não tinham como fim último o desenvolvimento da
manufatura nacional mas, como foi assinalado, a maior acumulação possível de
metais nobres.
A economia clássica posterior, cujo principal
representante foi Smith, preconizou, ao contrário, a livre atividade comercial
e manufatureira em qualquer território -- colônia ou metrópole --, já que,
segundo seus princípios, a riqueza não se identificava com o simples acúmulo de
reservas monetárias, mas com a própria produção de bens. No século XX, porém, o
economista britânico John Maynard Keynes retomou formulações do mercantilismo e
afirmou a existência de similitudes entre sua própria teoria do processo
econômico e a teoria mercantilista.
Independentemente das diversas análises econômicas a que
foi submetido, o mercantilismo foi o instrumento que assegurou as condições
econômicas e financeiras necessárias a garantir a expansão dos estados
absolutistas europeus. Entre os representantes do mercantilismo distinguiu-se o
francês Jean-Baptiste Colbert, ministro da Fazenda de Luís XIV, de tal
importância que seu nome serviu para se cunhar o termo por que é conhecida a
variante francesa do mercantilismo, o colbertismo.
Na Grã-Bretanha, além de Thomas Mun, sustentaram a mesma
orientação James Steuart e Josiah Child, assim como na França Jean Bodin e
Antoine de Montchrestien. Em Portugal, as primeiras reformas do marquês de
Pombal revelam sua filiação à teoria mercantilista.
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